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CARLOS LYRA
Sérgio Cabral
No "Samba da Bênção", Vinícius de Moraes afirma que Carlos Lyra une a ação ao sentimento. É verdade e sou testemunha disso. Para ir mais fundo, digo que Carlinhos Lyra fez a minha cabeça. Muita coisa que escrevi durante vinte anos de militância no jornalismo ligado à música popular, saiu das palavras que ouvi desse extraordinário compositor durante a época em que a gente atuava junto no Centro Popular de Cultura da UNE.
Ação, sentimento, talento, etc, tudo isso é coisa ligada à atuação de um dos maiores melodistas que a música popular brasileira produziu em todos os tempos.- -Ele é tão importante que nem as péssimas relações do consumo com essa mesma música conseguem destruir a obra de Carlinhos Lyra. Sei que as gravadoras nasceram para dar lucros, como uma quitanda qualquer, e que não têm qualquer compromisso com a verdade da chamada MPB: Tanto que eu ouvinte de música - por necessidade fisiológica - não consigo ouvir o que o rádio transmite desde o ano de 1984, que ficará marcado, por um lado, como o ano em que o povo brasileiro exigiu as eleições diretas, mas que, por outro lado, foi o ano em que o consumo musical foi monopolizado pelo produto estrangeiro e pela música brasileira feita ao jeito norte-americano. Foi um massacre tão avassalador que até muitos dos nossos principais compositores cederam, passando também a fazer música norte-americana em português (por enquanto, em português).
Por isso, não ouço música de rádio. Ouço músicas dos meus discos, selecionadas por mim. E seleciono “Primavera", "Minha namorada, "Canção que morre no ar..", "Feio não é bonito", "Saudade fez um samba", Marcha da quarta-feira de cinzas", "Aruanda", "Quem quiser encontrar o amor", "Influência do jazz", "Maria Ninguém” e tantas outras canções de Carlos Lyra que a gente pode ouvir na certeza de que está enriquecendo a alma e ajudando o próximo a ser mais sensível.
Por isso, considero que um show de Carlos Lyra é sempre um grande acontecimento e que metem a nossa presença o nosso aplauso, a nossa gratidão. Sentada na poltrona do teatro ou na cadeira do bar, estamos diante de um dos maiores nomes que a música brasileira já produziu e não só com uma grande obra para oferecer, mas, sobretudo, com muito a contribuir para que tenhamos novas emoções e outros motivos para acreditar que a falta de criatividade ainda não é um problema para quem gosta de música no Brasil.
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